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Luís Gomes
Luís Gomes
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Na último 9 de Agosto, o Director da Escola de Negócios da Universidade Católica de Lisboa -, o Dr. Filipe Santos, publicou um artigo no Jornal de Negócios assim titulado: “Criptomoedas – Piores do que bolbos de túlipas”. Trata-se de um artigo de opinião onde julgo que estão elencados todos os lugares-comuns que servem para criticar e denegrir as Criptomoedas.

O Dr. Filipe Santos inicia o seu artigo queixando-se de que as Criptomoedas são especulativas, não possuem qualquer valor intrínseco, não são tributadas e, pecado mortal, não são reguladas; isto tudo acompanhado da ausência do controlo das transacções – custa-me a entender que ao fim de milénios de existência da humanidade, estejamos agora a colocar em causa o anonimato do dinheiro, algo que deu soberania às pessoas, mas parece que agora não é bem assim.

Segundo compreendi, as Criptomoedas são uma espécie de roleta-russa, uma nova bolha de Bolbos de Tulipa que urge regular urgentemente. Segundo esta lógica, os investidores são criancinhas inimputáveis, incapazes de pensar pela sua cabeça. Se correr bem, fantástico; se correr mal, o sistema, tal como Pôncio Pilatos, lava as suas mãos e diz que não há lugar a lamúrias, a “corretora avisou-o”.

Temos assim as Criptomoedas a viver um “Far West”, onde os inocentes arruínam as suas poupanças, enquanto os activos financeiros regulados são o oposto: a ordem, a segurança e inexistência do risco. Mas será mesmo assim?

Na Figura 1, calculou-se o desvio-padrão, uma medida de risco, de distintos activos financeiros, incluindo as duas principais Criptomoedas: o Bitcoin e o Ethereum; e tendo em conta as últimas 252 sessões – o número de sessões num ano para o mercado bolsista norte-americano. O que podemos concluir?

Escolhendo aleatoriamente duas acções, do tipo “Penny Stock”, aquelas onde o Lobo de Wall Street lucrava uma comissão de intermediação de 50%, como a Zion Oil & Gas e a Faraday Future Intelligent Electric, a primeira tem um risco 2,4 vezes superior ao Bitcoin! Há milhares destas acções nas bolsas norte-americanas.

Recordemo-nos que qualquer investidor que abra uma conta numa corretora ou uma conta valores num banco comercial pode negociar livremente este tipo de acções, sem a necessidade de realizar um teste de avaliação de conhecimentos e experiência, dado tratar-se de um instrumento não-complexo (ver documento da CMVM, página 11).

Até as acções da icónica Tesla, do famoso Elon Musk, apresenta mais risco do que o Bitcoin! Mas o leitor poderá colocar a questão: o que dizer do Petróleo e dos dois principais índices norte-americanos, o Nasdaq Composite e o S&P 500?

No caso do Petróleo, para a maioria dos investidores, não pode ser negociado a contado; ou seja, ao comprar, por exemplo, acções, envio o dinheiro ao vendedor e em troca recebo títulos de propriedade (acções). Neste caso, ninguém deseja receber lá em casa milhares de barris de Petróleo, apenas expor-se à subida ou descida do preço. Desta forma, terá de ser negociado através de instrumentos derivados, tais como CFDs, Futuros ou Opções, com liquidação monetária – no fecho da posição, são liquidados as perdas ou os ganhos.

No caso dos índices é de todo impossível negociar a contado, pois não existe propriedade sobre algo que não existe, trata-se apenas de uma criação humana para medir o desempenho de um dado mercado ou classe de activos. Desta forma, para os negociar é necessário também recorrer a um instrumento derivado, como um CFD, um Futuro ou uma Opção, para se obter uma exposição à subida ou à descida do preço.

Vamos então simular a mesma volatilidade – medida de risco – através da utilização de um CFD (alavancagem permitida pela ESMA); o que obtemos? O índice Nasdaq Composite torna-se 9,8 vezes mais arriscado que o Bitcoin, um dos índices mais utilizados pelos investidores, em particular os pequenos através de CFDs.

Em conclusão, não passa de demagogia ou simplesmente desconhecimento quando se acusa as Criptomoedas de serem activos financeiros especulativos; nesse caso, o que dizer da oferta da maioria dos bancos e corretoras de valores, que vendem, por exemplo, opções e warrants, produtos altamente alavancados, em que existe a possibilidade de perder mais do que o capital investido? Aí, para o Dr. Filipe Santos já não existe qualquer problema?

Outro aspecto que me entristece é o retrocesso que vivemos na ciência económica: continuamos a utilizar o erro de Karl Marx, que seguiu igualmente a teoria do valor-trabalho de Adam Smith – neste caso, o valor intrínseco era o trabalho incorporado. No seu livro a Riqueza das Nações (I.v.1., página 47) afirma: “O valor de qualquer mercadoria, portanto, para a pessoa que a possui, e que não pretende usá-la ou consumi-la, mas trocá-la por outras mercadorias, é igual à quantidade de trabalho que esta lhe permite comprar ou comandar. O trabalho, portanto, é a medida real do valor de troca de todas as mercadorias”.

Basta um pequeno exemplo para contraditar tal teoria: suponhamos que colocamos umas cozinheiras durante horas a fabricar bolos de areia; alguém os irá comprar? Aqueles que o conseguirem, desejo-lhes boa sorte. Estão lá horas de trabalho!

O valor vem da mente humana, cada quantidade adicional é colocada na necessidade mais urgente; a última unidade na posse de alguém servirá para satisfazer a necessidade menos urgente, por essa razão, terá menor valor. Assim, maiores quantidades comandam um menor preço e a escassez o contrário.

Para satisfazer uma necessidade, a mente humana pode gerar vários tipos de procura: por consumo, por especulação, por reserva de valor; ou mesmo, aquilo a que se chama procura monetária. O Dólar norte-americano (USD), ao ser a moeda mais utilizada no comércio internacional, obriga, por exemplo, as petrolíferas em Portugal a possuir um determinado saldo em USDs para realizar pagamentos internacionais, incrementado a respectiva procura.

O mesmo acontece para o Banco Central, por exemplo, do Brasil ou da Argentina, que necessitam de possuir enormes saldos em USDs para defender a sua divisa nos mercados internacionais, em caso de um ataque especulativo às suas divisas. Dessa forma, essa procura monetária provoca a subida do USD nos mercados internacionais, por forma a estarem preparados para uma crise.

O mesmo ocorre numa queda dos mercados financeiros, os investidores tentam vender os activos financeiros por contrapartida de USD, gerando procura por esta divisa, atendendo que a esmagadora maioria dos activos financeiros está cotado em USD. Mercados de capitais de enorme dimensão e liquidez são essenciais para a manutenção de uma moeda-reserva do mundo, como é o caso do USD.

Essa é razão para o facto do USD não sofrer uma enorme queda nos mercados internacionais, ao contrário do ocorrido recentemente com o Iene japonês, apesar de tanto o Banco Central norte-americano como o japonês inundarem os mercados com as suas divisas, imprimindo como se não houvesse amanhã. O primeiro beneficia de uma enorme procura, o segundo não; a interacção da procura e da oferta define o preço.

Luis Molina, professor espanhol da Universidade de Évora no século XVII, já o tinha afirmado: “Assim, como uma abundância de bens faz com que os preços caiam (a quantidade de dinheiro e o número de negociantes sendo igual), a abundância de dinheiro faz com que eles aumentem (a quantidade de mercadorias e o número de negociantes sendo igual). A razão é que o dinheiro por si só se torna menos valioso para fins de compra…”. A ciência económica actual é agora anterior ao século XVII, estes sabiam que o aumento de massa monetária gera inflação!

Apesar do USD não possuir qualquer valor intrínseco, produzir uma nota de 100 USD tem um custo ridículo, quase inexistente, ele é valorizado pelas pessoas, porque todo o mundo o aceita como forma de pagamento. Eu desejo possuí-lo, porque tenho a certeza que será aceite pelos demais. Esta é uma condição para algo ser dinheiro: ser o intermediário de todas as trocas comerciais, o bem mais líquido que existe, todos o desejam. Daqui derivam duas funções: unidade de conta e reserva-de-valor.

Unidade de conta, na medida em que todos os bens e serviços passam a ser denominados nessa divisa; reserva-de-valor: sei que daqui a 20, 30 ou 50 anos, a divisa na minha posse irá adquirir a mesma quantidade de bens e serviços. Neste caso, a história provou que uma boa reserva de valor deve possuir força monetária.

Para medirmos a força monetária do dinheiro devemos considerar dois aspectos: (i) o inventário de dinheiro, que consiste em tudo o que foi produzido no passado e deduzido do que foi consumido, e (ii) a produção que irá ocorrer no período temporal seguinte. O rácio entre a quantidade e a produção define a força monetária do dinheiro.

Não é uma casualidade que o Ouro tenha sido eleito a divisa e a reserva-de-valor por excelência durante milénios. A produção anual é ridícula em comparação com o inventário, no máximo a produção poderá representar 2,5% do inventário, dada a enorme dificuldade em minerar, mesmo alocando enormes recursos para tal.

A força monetária é algo que não existe para o dinheiro governamental. Hoje, é o que temos: dinheiro do governo, as moedas fiat. Estas valem porque o governo obriga toda a economia a aceitá-la e a liquidar impostos em exclusivo com essa moeda, gerando a tal procura de que falei anteriormente.

Os Bancos Centrais, em nome de um estímulo à economia ou visando ajudar um governo em apuros, podem imprimir enormes quantidades de dinheiro. Neste contexto, basta consultar os balanços destas instituições desde 2008, em particular após 2020: a massa monetária não tem parado de crescer, de forma inexorável.

Também podemos ter procura especulativa, sempre que alguém pense que o actual preço está subvalorizado ou sobrevalorizado face ao preço justo – que só existe na nossa cabeça. Especulação é isso mesmo: prever o preço futuro. Os especuladores são essenciais ao correcto funcionamento de qualquer mercado, atendendo que corrigem rapidamente os preços – caso as previsões estejam correctas -, permitindo melhores sinais à economia. Quem distorce os preços são precisamente os Bancos Centrais, quando distorcem o preço do dinheiro e dos activos financeiros, ao intervirem através de compras com dinheiro de monopólio.

Reguladores e burocratas julgam que os investidores não estão interessados em especular, são sempre vítimas de alguém. Não é a regulação que vai alterar a natureza humana: a especulação será sempre uma necessidade humana. É o que acontece para a maioria das Criptomoedas e para os milhares de activos financeiros oferecidos pela banca e corretoras de valores. Por outro lado, o Dr. Filipe Santos também se esqueceu que a corretagem de Criptomoedas é hoje regulada no âmbito da lavagem de dinheiro e financiamento ao terrorismo; terá sido de propósito ou ignorância?

Em relação à tributação, importa ter em conta que actualmente o Estado português apenas tributa as mais-valias e os rendimentos com valores mobiliários e derivados financeiros; ou seja, não se aplica às Criptomoedas. Ora, o Bitcoin, por exemplo, não é um valor mobiliário – não há um emissor que irá proporcionar rendimentos – nem é tão pouco um derivado.

Caso tal tributação venha a ocorrer, passará a colocar o Bitcoin em desvantagem em relação às divisas Fiat. Se um especulador tivesse comprado 10 mil USDs no início do ano e os tivesse vendido no dia 11 de Agosto teria obtido um ganho de 1000 Euros aproximadamente: tal operação não foi tributada! Uma vez mais, o dinheiro do governo sai privilegiado!

Em relação ao controlo das transacções, será que o Dr. Filipe Santos advoga a tirania digital que representa as Moedas Digitais dos Bancos Centrais (MDBC), em que tudo é controlado; é disso que se queixa?

Se apenas existir dinheiro digital do governo, não é possível colocá-lo no nosso bolso e usá-lo em pagamentos anónimos. Os defensores do dinheiro digital valorizam muito a sua capacidade de acabar com o crime e a evasão fiscal, mas esquecem-se do reverso da moeda.

O dinheiro digital permite um bloqueio no saldo bancário de um alcoólatra para impedir o seu uso para a compra de álcool; as compras de alimentos de uma pessoa com excesso de peso podem ser controladas pela forma como o seu dinheiro digital pode ser usado. Essas restrições impostas à escolha individual são anunciadas como medidas de saúde.

Em conclusão: o poder transmitido às autoridades pelo dinheiro digital pode ser usado para controlar totalmente a pessoa. Qualquer oposição à narrativa oficial, como aconteceu aos camionistas no Canadá, pode levar o governo a bloquear o acesso das pessoas à sua conta ou a bloquear o seu uso para pagar a renda de casa ou a sua alimentação: na prática, é como deixá-las de joelhos. É isso que o Dr. Filipe Santos pretende, quando pede o controlo exaustivo dessas transacções?

Também não faltou o inevitável histerismo acerca do consumo de energia do Bitcoin. Como podemos observar na Figura 3, o consumo de energia da mineração relacionada com o Bitcoin representa apenas 0,13% do consumo global de energia.

Como chegámos a este valor? Utilizando o relatório do AIE (Agência Internacional de Energia), através do seu relatório para 2021 – Key World Energy Statistics 2021- ; na página 6 temos que a produção mundial de energia para 2020, que foi de 606 EJ, o que corresponde a 168 milhares de biliões de Watts/hora (Wh); na página 36, temos o consumo de energia para 2021, que foi de 116 biliões de Wh; ou seja, o mundo desperdiça 31% da sua produção (52 biliões de Wh)! Com este aspecto ninguém parece estar preocupado!

Por fim, consultando o índice da Universidade de Cambridge, o consumo de energia pelos mineradores de Bitcoin correspondeu a 0,1347 biliões de Wh (valor anual), o seja, 0,12% da energia consumida e 0,08% da energia produzida! Esta é a dimensão do histerismo.

Ainda tivemos a inevitável comparação Bitcoin vs. Um país; neste caso foi a Noruega, que representa 0,4% da economia mundial.

Em lugar da Noruega, podíamos usar o Benim: “O Bitcoin consome mais energia que o Benim”. Efectivamente, o Benim consome 0,0013 biliões de Wh (ver página 60 do relatório  relatório Key World Energy Statistics 2021), enquanto os mineradores de Bitcoin 0,134 biliões de Wh, ou seja, cerca de 103 vezes! Ficamos a pensar: isto é algo perigoso, já supera 103 vezes a dimensão de um país!

Mas importa colocar as coisas em perspectiva: o PIB mundial em 2019 foi de 87,3 biliões de USD e o PIB do Benim, para o mesmo ano, foi de apenas 0,01439 biliões de USD, ou seja, representou 0,016% do PIB mundial; isto é 485 vezes menos o peso do Bitcoin no consumo mundial; parece que entra pelos olhos a dentro o ridículo destas comparações!

Para assegurar a escassez do Bitcoin, tem que ser crescentemente difícil minerá-lo, obrigando a maior poder computacional e, em consequência, maior consumo de energia. Sem isso, não é possível garantir a segurança do blockchain; se não é valorizado, não há incentivos para incrementar a segurança, nem tão pouco assegurar a escassez. Por essa razão, o Bitcoin é hoje procurado por ser uma reserva de valor.

Depois, Filipe Santos confunde conceitos, em particular os diferentes tipos de StableCoins, colocando tudo no mesmo saco e afirmando que nada nem ninguém as audita, o que não corresponde à verdade.

Em artigo anterior (A queda da StableCoin UST), expliquei os diferentes tipos de StableCoins, basicamente três: (i) suportadas em moeda Fiat, como é caso do USDT (Tether) e USDC (USD Coin); (ii) suportadas em Criptomoedas, como é o caso do DAI; e (iii) Algorítmicas, como foi o caso do UST, sem qualquer reservas, apenas ajustando a oferta de acordo com a procura, ou seja, com base num algoritmo.

Em relação ao USDT e ao USDC, a primeira é emitida pela empresa Tether, a segunda pela empresa Circle, ambas auditadas, ou seja, os auditores verificam que o valor em depósitos bancários corresponde ao número de tokens emitidos. No caso do DAI, basta uma ligação à Internet para conhecer as respectivas reservas (aqui).

Gostaríamos de saber se os bancos comerciais são igualmente transparentes a este respeito, ou seja, qual a cobertura da soma do valor indicado em todos os extractos dos clientes; que quantidade de reservas no BCE permite fazer face a uma corrida aos depósitos, isto é, no caso de que todos os clientes decidam levantar todo o seu dinheiro do banco? Podemos imaginar o que aconteceria: é óbvio que não está lá praticamente nada, mas o Dr. Filipe Santos não nos alerta para tal!

Ainda tivemos o recorrente insulto ao mercado de Criptomoedas: um esquema em pirâmide, que fazia corar de inveja Charles Ponzi! O que dizer da Segurança Social, que tem apenas duas diferenças em relação ao famoso burlão Bernie Madoff: (i) a entrada não é por convite, quem não se junta vai parar à prisão; (ii) na saída, não dizem que significa a saída de um clube de prestígio, mas apenas que só poderá ocorrer após os 65 anos. E o que dizer dos bancos comerciais que actuam através de reservas fraccionadas, um gigantesco esquema em pirâmide? E o que dizer do maior de todos: o BCE, com uma alavancagem de 78 vezes!

Também tivemos uma crítica ao DeFi – Finanças Descentralizadas -, tudo tratado igualmente como um enorme esquema em pirâmide. Por aqui, estão a ser realizados projectos que são verdadeiramente mercados de poupança, em que aforradores obtêm um rendimento acima da inflação e tomadores de crédito são obrigados a deixar garantias, neste caso Criptomoedas para o fazerem. No caso dos bancos comerciais o que existe? Taxas de juro 0%, fixadas administrativamente pelo BCE, e inflação próxima dos 10%, significando um enorme confisco dos aforradores: aqui parece que já não há problema!

Ainda a pérola: “…nos últimos sete meses, o ecossistema das criptomoedas mostrou sinais de fraqueza, passando de um valor global de mercado de três mil biliões de dólares para cerca de mil biliões de dólares…”. Para além de confundir milhar de milhões com biliões, pois deveria ter dito de 3 biliões de USD para 1 bilião de USD, ou então, de 3 mil milhões de USD para mil milhões de USD, revelou estar preocupado com tal queda!

Parece que o sistema financeiro está ameaçado pelas Criptomoedas; nada mais falso, senão vejamos (fonte Yahoo Finance, data 11-08-2022): a Apple vale 2,7 biliões de USD, a Microsoft vale 2,2 biliões de USD, a Alphabet (Google) vale 1,6 biliões de USD e a Amazon vale 1,4 biliões de USD. Ou seja, apenas uma empresa vale mais do que todas as Criptomoedas juntas! Estamos perante uma enorme ameaça!

Termina, afirmando que tal queda se deve ao fim das taxas de juro negativas. O Dr. Filipe Santos ainda não compreendeu onde está a verdadeira bolha: no mercado de obrigações, aí sim, um verdadeiro risco sistémico.

Em Agosto de 2020, estimava-se que o seu valor era de 128,3 biliões de USD; hoje, quanto valerá, com os Bancos Centrais a comprarem toda a dívida emitida pelos governos? O dobro? O que irá acontecer se os Bancos Centrais deixarem de comprar? Qual será a queda dos preços causada pela subida das taxas de juro? Podemos imaginar o cataclismo à nossa frente. A crise terá como propósito servirem-nos num prato as Moedas Digitais dos Bancos Centrais, apresentadas como a salvação divina! Mark Carney, ex-governador do Banco de Inglaterra, há três anos, já nos avisava para tal inevitabilidade. Quando tal acontecer, o Dr. Filipe Santos cantará seguramente hosanas em louvor, pois parece desejar o fim das Criptomoedas, símbolos de liberdade financeira.

Destaques Autor
img:Luís Gomes

Luís Gomes