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Luís Gomes
Luís Gomes
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De férias, aproveito para ler. Desde sempre, a história e a teoria do dinheiro foram temas que me fascinaram. Revejo o livro que mais me marcou a este respeito: “The Theory of Money and Credit” do economista Ludwig von Mises, publicado em 1912 em alemão. 

Hoje, a maioria dos estudantes de economia não compreende o funcionamento do presente sistema monetário, nem tão pouco estudou ou debruçou-se sobre o mesmo. Não podemos atribuir-lhes qualquer culpa, pois o ensino dá pouca importância a estas matérias, talvez porque interessa manter a ignorância generalizada a este respeito.

Eu próprio fui uma vítima deste sistema de ensino, com poucas disciplinas sobre estes temas no meu tempo de faculdade; apesar de tudo, a experiência profissional e a minha curiosidade ajudou-me a reconhecer a importância do dinheiro no aparecimento de sociedades prósperas e dinâmicas. 

Dentro desta temática, sempre me fascinou um episódio da nossa história: a troca de missangas por ouro e escravos que os descobridores portugueses realizavam na costa africana. A pergunta que sempre subsistiu na minha cabeça foi a seguinte: qual a razão para uma troca voluntária tão desfavorável para os africanos?

As missangas era pulseiras, podendo ser adaptadas para colares ou braceletes, construídas com pedaços de vidro. Tornaram-se preciosas na África subsariana, atendendo que a tecnologia do vidro era cara e pouco comum. Desta forma, tornaram-se dinheiro nesta região, ou seja, um meio de troca e reserva de valor.

Com a chegada dos europeus, detentores de tecnologia capaz de produzir vidro em enormes quantidades, estes foram capazes de produzir missangas em enormes quantidades, utilizando-as como meio de pagamento para obter escravos e ouro. 

O colapso do valor das missangas, em resultado das enormes quantidades introduzidas pelos europeus, foi uma tragédia para os proprietários das missangas, operando-se uma enorme transferência da sua riqueza para os comerciantes europeus, capazes de as produzir em enorme quantidade e a baixo custo.

Para ser reserva de valor, o dinheiro tem que ser imune à putrefacção, corrosão, e outras formas de deterioração. Se alguém acumula riqueza sob a forma de maçãs, peixes ou laranjas não a poderá manter, atendendo que no futuro não será capaz de vender estes bens no mercado. Devemos utilizar como reserva de valor algo que possua as mesmas características ao longo de anos, ou mesmo séculos.

Para além de não se deteriorar, a reserva de valor exige que o dinheiro seleccionado se mantenha escasso ao longo do tempo. Para tal, é necessária que a emissão do dinheiro não aumente de forma drástica ao longo do tempo, caso contrário, o seu valor de mercado irá diminuir drasticamente. 

Ora, as missangas funcionaram bem durante séculos, pois cumpriam os dois critérios: por um lado não eram deterioráveis e por outro a sua escassez estava garantida, atendendo à dificuldade em emitir drasticamente novas missangas – a tecnologia de vidro era cara ou praticamente inexistente, como sobredito. Em conclusão: a emissão drástica não era possível.

Para medirmos a força monetária do dinheiro devemos atender a dois aspectos: (i) o inventário de dinheiro, que consiste em tudo o que foi produzido no passado e deduzido do que foi consumido, e (ii) a produção que irá ocorrer no período temporal seguinte. O rácio entre a quantidade e a produção define a força monetária do dinheiro.

Para além de outras características, o ouro tornou-se dinheiro fundamentalmente por possuir uma elevada força monetária, ou seja, a produção de um dado período tem pouco ou nenhum impacto no inventário existente.

Praticamente todo o ouro extraído da natureza até à data encontra-se na posse de alguém, seja de um particular ou Banco Central. Por outro lado, a produção anual de ouro não supera os 2% do inventário, atendendo que a mineração é cara e difícil. 

Outros metais não possuem esta força monetária, como, por exemplo, o ferro. Num dado ano, a produção é praticamente consumida, havendo, por conseguinte, pouco inventário; por outro lado, afectando capital e recursos humanos à sua produção, esta pode ser drasticamente incrementada, algo que não acontece com o ouro.

O sucesso deste metal levou a que Bancos Centrais, governos e bancos centralizassem a sua propriedade. Hoje, estima-se que apenas os Bancos Centrais possam deter mais de 30% do inventário existente. 

Tal concentração de propriedade permite a emissão de substitutos, como notas ou cheques, deixando de existir a necessidade de transportar o ouro para realizar o pagamento, bastando a compensação junto do banco, movendo-se a propriedade do mesmo de um cliente para outro.

Esta capacidade de emitir substitutos permitiu aos governos manipular o inventário do ouro. Para financiar a guerra do Vietname, os Estados Unidos emitiram uma enorme quantidade de notas de dólar sem qualquer respaldo em ouro. A manipulação do seu inventário levou ao fim do ouro como dinheiro.

Actualmente, estamos a viver o mesmo drama dos proprietários das missangas. A produção de nova moeda é quase infinita; Euros e Dólares norte-americanos podem ser produzidos com um simples apertador de um botão de computador, praticamente sem quaisquer custos. Isso gera uma transferência de riqueza a favor dos produtores de dinheiro, Bancos Centrais, governos, bancos e apaniguados, em detrimento dos produtores de bens e serviços.

A força monetária das actuais moedas é mínima, pelo que a sua viabilidade a longo prazo é inexistente. Por outro lado, a alternativa proposta, a moeda digital dos Bancos Centrais mantém o mesmo problema: a sua produção pode ser aumentada drasticamente e sem custos.

A razão de afirmar vezes sem conta que o Bitcoin é uma excelente reserva de valor deriva das suas características, que resolvem os problemas já anteriormente indicados. 

Primeiro, a sua produção está limitada a 21 milhões de tokens; a emissão é muito cara, pois consome imensa energia, pelo que a produção está fortemente condicionada. Assim, a sua força monetária está assegurada.

Segundo, a tecnologia em que assenta, o blockchain elimina por completo a centralização. Cada nodo pode operar de forma individual e não é possível controlar mais de 50% dos nodos da rede. Em resumo, dispensa uma autoridade central e funciona de forma descentralizada.

Por fim, ao contrário do ouro que pode ser manipulado o seu inventário através de substitutos – o fenómeno das as reservas fraccionadas -, o valor de Bitcoins total e a quem pertence pode ser auditado com uma simples ligação à Internet, impossibilitando tal prática.

Continuo a pensar que a acumulação de riqueza em Bitcoins será altamente compensadora no futuro, pelas razões que já indiquei.

Destaques Autor
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Luís Gomes